sexta-feira, 17 de julho de 2009

Por Dianne Nogueira


Os jovens de Bom Jesus do Gurguéia foram convidados para um congresso no município de Barreirinhas que mais parecia uma vila.
Naquela época o pessoal viajava de caminhão e, como era o meu pai quem dirigia, eu sempre ia a todos os congressos, mesmo sendo criança.A cidade era realmente minúscula e estava lotada de caravanas para o congresso.
A alimentação era fornecida gratuitamente pela igreja local. Infelizmente essa alimentação provocou um efeitinho nada legal nas caravanas. Nunca na história daquela cidade foi registrado tamanho surto de diarréia.
Como todo mundo adoeceu, havia sempre mais gente na fila dos banheiros do que dentro da igreja. Aliás, os banheiros da cidade não davam mais conta. Todos estavam sempre ocupados.
Foi aí que o meu pai teve a brilhante idéia de usar a famosa moita. Ligou o caminhão e saiu da cidade com ele lotado de irmãos que estavam ansiosos para literalmente fazer a ‘obra’.
Eu nunca soube de caravanas de Bom Jesus voltando a Barreirinhas.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A (IN)UTILIDADE DE SER CRISTÃO




Acordei. Depois do ritual da manhã (lavar o rosto, escovar os dentes, tomar café, ler a bíblia, fazer oração) sai de casa rumo ao trabalho.
Pelo caminho deparei, com o que classificamos a escoria da sociedade. Indigentes, moradores de rua, jogados na calçada, embriagando-se, sem nenhuma perspectiva de vida. Tive dó. Mas logo meu senso moral me fez chegar a seguinte conclusão: a culpa era deles. Bando de vadios, alcoólatras. E assim, prossegui em paz, agradecido a Deus por não ser como eles.
Hora do almoço. Arroz, feijão, carne, salada, refrigerante ou suco. Sobremesa. Senhor Jesus obrigado por essa refeição, foi a oração que acompanhou esse momento sagrado. Logo após encontrei-o: um homem com seus filhos e mulher desempregada, morando de aluguel e salário maravilhoso de R$350, 00. Suas refeições muitas vezes sem a saborosa mistura, as crianças sem o leite para o café da manhã. As crianças ajudando o pai catando papelão e latinha na rua, sem tempo de ir à Escola, praticar esportes, ler livros, ver desenho animado - se não trabalhar não come. Ao ouvir o relato fiquei espantado e indignado com o governo e a sociedade! Culpei-o por fazer tantos filhos, por ser inconseqüente, irresponsável e alienado. E fiquei satisfeito por saber que a vida não esta fácil pra ninguém. Antes de despedi-lo, lhe dei-lhe um folhetim de evangelismo com o endereço da igreja. Nesse, estava escrito que ele era um misero pecador e estava condenado ao inferno. Ficou feliz. Até que enfim encontrou razão para tanto sofrimento. Para o inferno que estava vivendo. A culpa era de Deus.
Ele se foi. E eu agradeci a Jesus por não ter vergonha de anunciar o evangelho. Afinal de contas, que ousadia a minha. Mais um folheto entregue!
Chegando em casa, tomei um belo banho. Entre varias peças de roupa, escolhi a mais nova. Diante a vários pares de sapato, achei um que combinasse com a roupa. Propus-me a jantar, e que jantar abençoado... Em seguida fui à igreja. Orei. Cantei louvores. Li as Sagradas Escrituras. Gritei aleluia, gloria a Deus. Que coração quebrantado. Escutei pacientemente um maravilhoso e longo sermão sobre as bênçãos de Deus por ser seu filho. Após o culto, o comentário habitual - fofoca gospel era sobre ela. 17 anos. Quando criança ate freqüentou a igreja. Agora esta grávida. O pai do bebe. Está preso. Traficante e bandido, tem 18 anos e ainda não tomou rumo. Eles mantêm relações sexuais na cadeia. Culpada é a mãe. Prostituta. Que exemplo deu a filha! E foi ela quem mandou namorar marginal!
Fui pra casa, assistir televisão. Corrupção, desigualdades sociais, mortes, estupros, tráfico, policia invadindo o morro, o morro invadindo a cidade, PCC, mensalão, máfia de sanguessugas. Era o relato do jornal de mais um dia nesse mundo que jaz no maligno. O capeta. A culpa e toda dele.
Antes de deitar, li a bíblia e fiz a oração da noite: “obrigado Jesus por me abençoar tanto, pela salvação. Ah! Quero te fazer um pedido. Preciso ganhar mais no meu emprego para obter mais conforto. Preciso prosperar, afinal sou dizimista fiel...” enquanto orava adormeci na minha confortável e segura casa, no meu colchão de R$900,00.



Ricardo Perpétuo da Silva, aluno do 3º ano da Escola Teológica da América Latina, seminarista da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Via: evangélicool

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A IGREJA PRECISA DE LÍDERES INTELECTUAIS


Por Vitor Pereira


O período histórico em que a Igreja Cristã se mostrou mais saudável, sem dúvidas, foi o período registrado no livro de Atos e, justamente por isso, é desse período que devemos buscar o modelo de Igreja mais apropriado. Mas ao compararmos as práticas dessa Igreja de 2000 anos atrás com a Igreja contemporânea, a diferença é gritante. A Igreja se preocupa muito no porquê de não alcançarmos os mesmos resultados da Igreja de Atos, mas nossa preocupação deveria ser menos em atingir os mesmos resultados da Igreja de Atos e mais com o modelo de Igreja que agrada a Deus, o modelo que Atos nos ensina. Não devemos focar nossa atenção no fim, mas sim no meio.Os capítulos 17, 18 e 19 do livro de Atos revelam um principio declaradamente ignorado nos nossos dias – a importância de liderança intelectual na Igreja. O grande responsável pela expansão do Cristianismo naqueles dias, o Apóstolo Paulo era uma referência não só espiritual, mas também intelectual. Enquanto nós tendemos a mistificar por demais a pregação das boas novas, vemos que Paulo usava de toda sua habilidade intelectual para, literalmente, persuadir as pessoas a crerem em Jesus Cristo (At 17.4). Porque não deveríamos fazer o mesmo?Paulo era um homem altamente intelectual que não perdia uma oportunidade de arrazoar com os gentios acerca das Escrituras (At 17.1) ou de enfrentar com argumentos, os filósofos da época (At 17.18), inclusive citando poetas pagãos por pelo menos três vezes em seus escritos (At 17.28, 1Co15.33, Tt 1.12) e ainda ensinando na Escola de Filosofia de Tirano (At 19.9). Outro que merece menção por sua habilidade de persuasão e oratória é Apolo que usava de suas habilidades naturais para convencer os judeus, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus (At 18.28). Em cinco ocasiões, apenas nesses três capítulos de Atos, são usadas as palavras persuadir (At 17.4, 18.4, 19.8), convencer (At 18.28) e arrazoar (At 17.2). Tais palavras se referem essencialmente ao uso do intelecto.É notória a diferença entre como a Igreja de Atos encarava a importância do intelecto e como nós hoje a encaramos. Hoje, talvez a maioria dos pastores não tenha sequer treinamento teológico. Filosófico então nem se fala. Por isso a Igreja é presa fácil para a influência do pensamento secular. Enquanto os futuros líderes e influenciadores dos valores da nação, sejam estes advogados, psicólogos, cientistas, médicos, filósofos estudam no mínimo quatro anos para tirar um diploma de bacharel. Nossos pastores desprezam o valor do estudo em seus ministérios, muitos nem sequer buscam instrução teológica, quanto mais de qualquer outra ciência.Qual cristão é citado como fonte de informação quando se trata de história, filosofia, psicologia, sociologia ou política? A Igreja nunca vai influenciar positivamente a cultura enquanto desprezar o valor pensamento, que é o que realmente move a cultura. O sociólogo John G. Gager apontou que apesar de a Igreja primitiva ter sido um movimento minoritário que enfrentou o desprezo e marginalização cultural e intelectual, ela só manteve a unidade interna e o testemunho corajoso por causa do papel dos intelectuais e apologistas Cristãos da época. A Igreja sabia quem eram seus intelectuais e apologistas e isso dava confiança e força para eles enfrentaram a marginalização pelo resto da sociedade.Hoje, a situação não é diferente, a Igreja Evangélica é ridicularizada pela sociedade, mas com a triste diferença que não temos uma liderança intelectual para nos apoiar. Se quisermos vencer devemos nos preparar para a batalha. Uma batalha que não é travada nas ruas, mas sim nas Universidades do país de onde saem os futuros lideres da nação. Enquanto o pensamento for reduto de Satanás, fica fácil de saber quem se sairá vencedor.

Fonte: Apologia do Cristianismo